segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Boate gay da velha guarda reabre em SP em busca de juventude....

Nostro Mundo, primeira boate gay de São Paulo, voltará a ter shows de transformistasNos anos 1980, uma das atrações mais esperadas do "Show de Calouros" de Silvio Santos era a apresentação das transformistas que, entre plumas e paetês, dublavam números musicais de divas de Hollywood e cantoras da MPB e faziam sucesso na boate Nostro Mundo.
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Ali Cameron/Folhapress
Nostro Mundo, primeira boate gay de São Paulo, voltará a ter shows de transformistas, musicais e comédia stand-up

A casa, que foi a primeira do gênero em São Paulo, completará 40 anos em 2011. Ganhou roupa nova na última quinta-feira, depois de um período de decadência.
Os novos proprietários construíram uma segunda pista, reformaram a principal e gastaram, só em iluminação, R$ 200 mil. Querem retomar a tradição de shows musicais que fizeram do local, na esquina da avenida Paulista com a rua da Consolação, uma referência em shows de transformismo.
"Vai ter shows musicais, espetáculos com dançarinos, mas também abriremos o espaço para comédia stand-up e exibição de filmes de curta metragem", conta do DJ Gê Rodrigues, que, com o sócio Igor Calmona, pretende revitalizar a quadra chamada de "ilha da Paulista".
Rodrigues, que não é gay, começou a carreira em casas do tipo há 25 anos e conheceu a Nostro Mundo no auge.
Além das noites tradicionais de sábado, com shows, e as matinês de domingo, a casa terá eventos mensais nas quintas e sextas, além de "after hours" de sábado para domingo até as 14h.
A intenção é trazer grandes nomes da música eletrônica e atrair novos públicos de todas as orientações sexuais. A mudança vem de uma percepção de que o público gay mudou muito.
"Nos anos 1990, os gays saíam muito bem vestidos. Hoje, você fica esbarrando em gente suada e sem camisa e drogada, que escolhe a música pela droga que tomou. É difícil alguém que saia para ouvir um DJ tocar. Queremos valorizar a música."
O SOFÁ DA HEBE
Grande parte do sucesso da Nostro Mundo se deve a uma personagem que satirizava a apresentadora Hebe Camargo. O show, com um sofá colocado no palco da boate, era conduzido por Miss Biá, 71, 50 anos de carreira completos neste ano.
Eduardo Albarella, o maquiador por trás da personagem, fazia entrevistas cômicas com atores globais que, segundo ela, iam de graça só pelo prazer de participar.
"Entrevistei Miguel Falabella, Glória Menezes e Tarcísio Meira juntos, Claudia Raia e até Bibi Ferreira. Só a Hebe que eu nunca tive o prazer de receber. Ela é minha cliente no salão até hoje, mas não é muito chegada no babado gay, não...", conta Albarella, na sala de seu apartamento na avenida Vieira de Carvalho, no centro de SP.
Ele lamenta a decadência dos shows de transformismo e diz que as drag queens de hoje em dia não têm referência culturais.
"Drag queen, você viu uma, viu dez. As mais poderosas têm, no máximo, um guarda roupa, mas identidade ninguém tem. Na minha época, para fazer número de Elza Soares você tinha que, no mínimo, parecer negra. Hoje tem drag loira de peruca lisa dublando Elza Soares, porque cantar também ninguém mais canta, só dubla."

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